Cícero Lima – Viajar de moto pequena faz bem para o piloto e para o bolso. Recentemente, escrevi sobre o aumento de vendas dos modelos premium e afirmei que é possível viajar com motos de baixa cilindrada sem deixar de ser feliz. Muita gente me criticou. Para mostrar esta realidade, faço agora um roteiro pela Região Sul do Brasil: rodei por seis dias pela estrada e gastei menos de R$ 900, passando por lugares fascinantes, que pouca gente conhece. Além do baixo consumo de combustível, a versatilidade da moto pequena é outro argumento a favor. Claro que ela não possui a mesma velocidade e conforto de moto grande, mas a ideia era justamente gastar pouco.
A moto escolhida foi uma Honda Bros, que tem apenas 150 cc e custa R$ 9.050.
RUMO AO SUL
Partindo de São Paulo, o caminho mais rápido é a BR-116. A estrada vai duplicada até Curitiba (PR), com exceção da Serra do Cafezal, próximo a São Lourenço da Serra (SP). Passando desse ponto, é preciso paciência para dividir a rodovia com ônibus enormes e carretas. As obras de duplicação terminam em breve, porém, o que deve render uma viagem mais tranquila da próxima vez. Com velocidade entre 90 e 110 km/h, a Bros não teve problema com os caminhões e o roteiro seguiu sem problemas durante este trecho.
Faltando 40 quilômetros para Curitiba, já foi possível sair da BR-116 e chegar à primeira atração: a Serra da Graciosa. A estrada, com quase 30 km, apresenta trechos com paralelepípedos e o caminho nos leva às cidades históricas de Morretes e Antonina. Aos pés da serra, a cidade colonial de Morretes, banhada pelo Rio Nhundiaquará, pode ser uma boa opção de descanso. Por lá, não deixe de experimentar o barreado – prato típico feito com de carne de búfalo.
Rodando mais 14 km pode-se alcançar Antonina, banhada pela baía que leva o mesmo nome. Fui para as praias de Matinhos, de onde sai a balsa que cruza a Baía de Guaratuba. Não é raro o moto-aventureiro avistar golfinhos neste ponto do trajeto. Por meio de uma estrada tranquila e bem asfaltada, você chega à divisa entre Paraná e Santa Catarina, para acessar a BR-101, uma ótima estrada beira-mar. Apesar do tráfego intenso, a pista dupla é bem sinalizada e seu pedágio custa apenas R$ 0,95 para motos.
LITORAL CATARINENSE
Quem não conhece o litoral de Santa Catarina e acha que já esteve em praias bonitas deve rever seus conceitos. Mar azul turquesa recortado por montanhas é a marca do local. Seguindo pela BR-101, basta escolher uma entrada que não há como se arrepender. Nomes curiosos como Bombinhas, Porto Belo, Biguaçu levam às praias que vão desde as mais descoladas até as quase intocadas. Até então, já havia feito mais de cinco abastecimentos e passado dos 1.000 quilômetros rodados (um a cada 200 km, portanto), sem sustos ou problemas. As paradas nos pedágios, entretanto, foram constantes. Ao menos o gasto com combustível é baixo: cada reabastecimento não superou R$ 20.
Meu rumo era Garopaba e a Praia do Rosa, palco de etapas do campeonato mundial de surfe. Passando em Laguna, ainda no litoral catarinense, o visitante ficará frente a frente com o museu de Anita Garibaldi. Antiga morada da personagem histórica, o local hoje conta parte de sua história. Uma passada pelo Farol de Santa Marta é quase imperdível. Na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul está a região de Torres, cheia de belezas. Seus atrativos naturais ainda estão intactos e bem protegidos, como o Parque das Torres e o Morro do Farol — do alto do morro, aliás, o vento faz com que o mar fique revolto e perca a coloração azul, que é substituída pela marrom.
Números da viagem
Percurso total 2.750 quilômetros (ida e volta)
Paradas 13
Alimentação R$ 210
Combustível R$ 256
Pedágio e balsas R$ 19,80
Hospedagens R$ 344
TOTAL R$ 829,80
DE COSTAS PARA O MAR
Já havia rodado mais de 1.300 km, mudei a direção e fui para o interior. A região dos cânions atrai quem curte turismo mais aventureiro. Assim, fui para a Serra do Rio do Rastro, uma das estradas mais divertidas do Brasil para quem gosta de visual impressionante e curvas radicais. Mas vale observação: quem tem medo de altura vai sofrer com a visão dos penhascos a beira da pista durante o percurso, que pode ser completado em pouco mais de uma hora.
Depois de passar pela Serra, encarei um desafio: atravessar a ponte de madeira sobre o Rio Correntes, lugar que vi em uma foto e quis ver ao vivo. Assim, segui por mais 200 quilômetros em direção a Curitibanos (SC) — foi lá começou a Guerra do Contestado, histórico combate entre o Governo e moradores da região, que ceifou mais de 4.000 vidas. Infelizmente, existe pouco registro do conflito, que a história diz ter começado em 1912 e durado até 1916.
Para realizar esse objetivo, a versatilidade da Honda Bros 150 foi primordial, pois a estrada de terra exige habilidade e pneus em bom estado, principalmente em tempos chuvosos [veja a travessia no final do vídeo abaixo]. Por falar em chuva, ela foi minha companheira no retorno, uma “reta” de quase 900 quilômetros feita em apenas um dia. A moto só pediu gasolina e nada mais. Com pedágio, combustível, hospedagens, água e refeições, foram pouco mais de R$ 800.
Fonte: Uol carros