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Aventura: uma viagem pelos dois lados do Brasil

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A dupla de motociclistas Wendell Fabrício e Lucas Pantuza estava no quinto dia de viagem, mas a sensação era de que tudo começava ali. Os mineiros estavam em Belém do Pará assistindo, tensos, suas motos serem colocadas no barco que os levaria ao município de Muaná, na Ilha de Marajó (PA). A preocupação não era exatamente com as seis horas de viagem previstas, mas com suas fiéis companheiras de viagem, uma BMW G 650 GS e uma Yamaha XT 660R. E se aqueles rapazes as derrubassem no rio ao passar por aquela tábua estreita que liga o porto ao barco?

Acabaria ali mesmo as pretensões dos amigos de conhecerem dois lados opostos do Brasil, o abundante em água e o que sofre pela falta dela. O receio dos viajantes, porém, não tinha muita razão de ser. Aqueles homens, funcionários do barco, fazem isso a todo tempo – e com maestria. Assim, o plano de visitar comunidades ribeirinhas na região paraense, bem como conhecer o coração do sertão nordestino, nos estados de Piauí, Pernambuco e Ceará, mantinha-se vivo. Já com as motos embarcadas e os viajantes nas redes, era hora de relaxar. Veio um sentimento de alívio e orgulho por ter conseguido atingir um dos destinos principais da viagem e realizar o sonho antigo de chegar de moto até a maior ilha fluviomarítima do mundo, dona de uma natureza ímpar e pouco conhecida pelos brasileiros.

Na Ilha do Marajó foram diversos passeios e confraternizações com o hospitaleiro povo local. Muita comida, especialmente açaí e camarão, além de excelentes banhos nos imponentes rios, como o Mocajatuba. Impressionante como os rios e igarapés ditam o ritmo e impõem limites para as pessoas. O efeito da maré, mesmo a mais de 100 km do oceano, faz o nível d’água subir e descer periodicamente mais de 3 m, trazendo harmonia entre a floresta alagada e as diversas espécies aquáticas que aproveitam as altas para se alimentar.

O retorno para Belém durou quase uma noite inteira, e cheia de emoção. O trecho de aproximadamente 100 km teve águas muito turbulentas e, por consequência, balanço. Os passageiros, deitados em redes, chocavam-se seguidamente. Noite longa, mas sem riscos. Em terra firme, era hora de seguir. Olhando no retrovisor o sentimento era de “até logo Amazônia”. Agora o foco era o sertão. O desejo era conhecer o coração do sertão nordestino e as raízes do forró eternizado por Luiz Gonzaga. Antes, precisavam cruzar 1.500 km de estrada, com parada para conhecer a bela Teresina (PI), chegando até Juazeiro do Norte (CE), ponto de apoio para conhecer municípios e lugarejos cearenses e pernambucanos. A terra árida do sertão muda não só a paisagem, mas também a cultura e costumes locais. A água abundante, entretanto, é uma das poucas coisas que faltam ali. Povo simpático, de cultura forte e religiosidade singular.

Exu foi um marco da viagem. Uma pequena cidade do oeste pernambucano que carrega o importante título de Terra do Rei do Baião. A cidade transpira Luiz Gonzaga e abriga diversos monumentos e alusões ao legado dele. A visita ao Museu do Gonzagão deu combustível para conhecer pessoalmente o local onde ele nasceu. Seguiram até o pequeno Vilarejo do Araripe, local que abriga poucas casas, e puderam até mesmo conhecer e conversar com membros da família Gonzaga. Também compreenderam o motivo pelo qual Juazeiro do Norte é considerada um dos três polos de religiosidade popular do Brasil. A figura de Padre Cícero, religioso envolvido em questões sociais e políticas, é constante. Transformou a antiga e pequena vila de Juazeiro do Norte na segunda maior cidade do Ceará.

Houve tempo para conhecer um pouco do registro paleontológico da região da Chapada do Araripe, na divisa do Ceará, Piauí e Pernambuco. Foram levados não só ao espaço de visitantes do museu do Geopark Araripe, como também tiveram o privilégio de ter contato com os trabalhos dos pesquisadores no laboratório dos fósseis, registro ímpar do período Cretáceo no Brasil.

O retorno duraria ainda mais cinco dias, com uma passagem de dois dias em Salvador (BA). Era hora de aproveitar um pouco as belas praias locais e uma boa comida à base de mariscos. Destaque para a orla revitalizada no Farol da Barra, que ficou esplêndida. Depois de 18 dias e mais de 7 mil km, viram a placa “Bem vindo a Belo Horizonte”.

“Viajar de moto é uma forma de suprir uma necessidade estranha que sai de dentro de nós. Algo inexplicável e que consegue ser simples porque tem começo, meio e fim – você estabelece o ponto que quer chegar e vai. Os objetivos são claros: chegar ao final e lidar com as complexidades e adversidades do trajeto, que certamente virão. Não é um propósito vago, como boa parte das coisas que estamos fazendo por aí”, diz Wendell Fabrício, já pensando na próxima aventura.

Fonte: Duas Rodas

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