Anna Seixas: “Pára o mundo que eu quero descer!!” Assim foi meu final de 2014.
E, no meio deste meu grito silencioso, surge – Salto do Yucumã ! – do guarani – “O Grande Roncador”
ou “O Grande Bramidor”. Sugestivo!!!!
Já havia sido convidada para uma “esticada” de moto até lá, mas não pude ir. do site – cotrijui.coop.br
Fui em busca, pesquisei. Comecei organizar viagem, elaborar roteiro. Mas claro, este seria só o objetivo inicial. Eu queria mais, convidei algumas pessoas para irem junto. Mas por motivos variados não aconteceu. E pela primeira vez, em viagem longa, sem meu Guri Estradeiro. Mas também com seu Apoio. Mesmo com ajuda, foi difícil organizar a viagem. A todo momento a insegurança, o medo de
não conseguir, não ser capaz, batia à porta. Pensava em desistir! Mas, a vontade sempre voltava firme:”- Eu vou!”. Tentei outros roteiros mais perto, nada funcionava. O Yucumã me “puxava”.
E assim, no dia 14/02/2015, 8:30h, moto carregada, eu devidamente paramentada, parti. Como estava “escrito” – Fui só!!
Como sempre, na saída, levei junto todo peso das dúvidas, apreensões, culpas pelas preocupações
em quem fica, até que, finalmente, o “cosmos” providenciou o meu “ponto de descarrego”.
Mais ou menos em meio caminho entre Santa Maria / RS e Itaara / RS, comecei a ter dúvidas se teria levado documentos da moto. Este pensamento ficou tão insistente, que parei para conferir.
Lógico, tudo certo. Mas deixei ali, naquele momento, todo o peso “extra”. Ali começava verdadeiramente minha Viagem. Leve, tranquila, feliz. Tudo podendo! Sendo capaz!
Viagem de poucas fotos. A viagem maior foi para dentro de mim mesma. Percurso com pouco mais de 1000 quilômetros.
Primeira etapa da viagem – Santa Maria – Tenente Portela – Salto do Yucumã. O salto do Yucumã está localizado no Parque do Turvo, Município de Derrubadas. Em Derrubadas há apenas dois balnearios com cabanas e camping . Optei por ficar no hotel Aracê,na cidade de Tenente Portela onde cheguei em torno de 14 h. Viagem calma, tranquila, como deve ser quando se viaja sem prazo e todo o trajeto perto do céu. Literalmente!
Estrada linda, sempre no “alto”, olhando as paisagens abaixo e ao longe. Perto do céu, também, pelo meu estado de espírito – paz, tranquilidade, confiança e leveza. Chegando a Tenente Portela.
Tenente portela é uma cidade bem simpática, tipo cidade de alto de morro. Ao virar em uma rua,
ela “despenca” morro abaixo. Estava totalmente calma, sábado de carnaval. No hotel, após descarregar moto, me instalar, pedi um sanduíche com suco, pois não havia almoçado e como estava cansada, uma sesteadinha básica, depois sai para jantar. Surpresas – chuva chegando e nada aberto na cidade!! Nenhum lugar para jantar.
Em uma padaria, que já estava fechando, os donos gentilmente me atenderam, comprei um pãozinho
e 4 fatias de queijo. Como sempre carrego algum alimento e água para emergências na estrada. Tinha comigo tomate seco, castanhas, café solúvel, adoçante. Feita a janta. Como boa gaúcha,tinha o aquecedor elétrico para água do chimarrão. Café quentinho pronto!
Em tempo, cheguei de volta no hotel abaixo de chuva. Noite deliciosa de dormir. Mas, sem passear
na cidade e a ida ao salto no dia seguinte??
15/02/15 – Domingo, amanheceu dia meio feio, mas foi melhorando e o sol apareceu. Conversando, descobri que, com a chuva, a estrada dentro do parque do Turvo, onde se localiza o Salto do Yucumã estava muito embarrada. Como a visitação ocorre de quarta a domingo, teria que ir de qualquer forma e ver o que fosse possível, descobri depois, que no período de carnaval funciona toda a semana.
Preparei meu chimarrão, peguei algumas castanhas, e fui para Derrubadas / RS. Mais um trajeto no topo do Mundo. Paisagens maravilhosas, “ Enfeiadas” , para meu gosto, pela enormidade assustadora de lavouras de soja. Como fica o equilíbrio do ecossistema local?
Chegando a Derrubadas / RS, cruzei pela cidade, que tem indicações bem claras do trajeto a ser seguido ( o centro de informações turísticas estava fechado) e fui direto ao Parque do Turvo distante uns 4 km . Recebida com muita presteza e simpatia, adorei imediatamente o local, mato, natureza preservada! Fui informada, que o caminho até o Salto estava inviável, principalmente para minha moto.
2 carros e 1 ônibus já haviam ficado pelo caminho, tendo que ser rebocados para sair. Visitei o Museu, orientada pelo Sr. Sergio.
Eram de uma excursão de Porto Alegre / RS. Todos muito simpáticos, já me adotaram. Fiquei sabendo que havia um jipe, onde levava as pessoas até o salto, ao valor de R$20,00/pessoa. Como nem todos da excursão iriam, sobraria vaga. Já me candidatei, ficaria para a segunda viagem. Já eram 11:40h, eles foram almoçar em Derrubadas / RS e eu fiquei no parque. Fiz meu chimarrão e fiquei por ali curtindo o lugar. Como motociclistas sempre se atraem, logo um bom papo surgiu com motociclista carioca que mora em Porto Alegre / RS. Ele foi fazer a trilha e ao transferir a moto para uma sombra, estranhei o barulho do motor. Fiquei preocupada e resolvi retornar. O salto ficaria para outra vez. Afinal o Rio Uruguai estava muito cheio, calando, temporariamente, o Grande Roncador.
Efeitos de um temporal.
Aproveitei para almoçar em Derrubadas, ao chegar no restaurante, vi que o pessoal do ônibus estava almoçando lá e pela hora, achei que haviam desistido. Já estava quase indo embora, quando chegou o jipe para pegá-los. Não sei quando mudaram os planos. Fiquei só de “butuca”, como muita gente desistiu de ir, acabou sobrando “exatamente” uma vaga. Deixei moto na frente do restaurante e lá me fui, de volta , conhecer o Salto do Yucumã, de jipe. Quem disse que o cosmos não dá um jeitinho!
Detalhe, motor da moto não deu mais sinal de problemas. Os 15 km dentro do Parque do turvo já valem a viagem. Um caminho no meio de mato nativo. É perfeito.
Uma estrada de chão, de uma via só, que leva até um espaço onde se pode passar o dia, fazer churrasco, etc. Mas tem que levar absolutamente tudo. Como é uma reserva, nem água pode ser vendida ali. O jipe que faz este trajeto, é da RKVturismo. Motorista, um guri, gente finíssima. Dali até o salto é mais uma caminhadinha de 220 m, realmente o rio Uruguai estava super cheio. Disseram que a última vez que o Salto pode ser visto, em toda sua beleza, foi no dia 28/12/14. Difícil imaginar, por baixo de toda esta água, aqueles enormes paredões de pedra. Belos e imponentes. Mesmo, temporariamente calado, o Grande Roncador, mantém sua beleza, sua energia. Fica agora a vontade e a promessa de retorno para ver e ouvir o “Grande Roncador”.
E, finalmente, o Salto!!!!!! kkkkkkkkk. O único que consegui ver desta vez! Retornando a Tenente Portela. Dizem que aqui é uma de grandes concentrações indígenas, mas não vi nenhum representante,
nenhum local de venda de artesanato indígena aberto (se é que existe). Me disseram que, talvez, na praça onde tem o Monumento ao Índio. Mas nada! O único artesanato indígena que vi, foi na decoração do hotel. e de muiito bom gosto.
Ahh, postos de gasolina também, não funcionam no carnaval. Apenas um fora da cidade. Um pouco do Salto do Yucumã. fotos emprestadas de outros sites. Só para deixar o gostinho, a vontade de voltar. Retornei ao hotel. Chimarrão. Improvisar janta e dormir para sair cedo no outro dia.
16/02/15 – Segunda–feira – Segunda etapa da viagem – Tenente Portela – Santo Ângelo
Acordar cedo, chimarrão rápido, café. Reencontro com o motociclista que encontrei no parque: estava hospedado no mesmo hotel. Bate papo, revisão geral moto, completar óleo, carregar e sair. Dia lindo, continuo viajando perto do céu!
Todos lugares onde passava, informações que pedia, sempre muito bem atendida. Apesar da surpresa que sempre demonstravam ao ver uma mulher viajando só. (ihhh, e a minha viagem é bem pequena perto do que outras gurias estão fazendo). Geralmente me chamavam de corajosa!! Será??? Assim, em torno de 11:00h, parei para um café básico em posto de combustível antes de São Martinho. Perto de Santa Maria temos São Martinho da Serra. Familiaridades! Coincidências.
Pretendia almoçar em Santa Rosa, onde cheguei em torno de meio dia. Dei umas voltas pela cidade. Abasteci, pedi informações. Fácil de se perder: os quarteirões não são quadrados, pelo menos na parte onde andei. Acabei indo almoçar em Santo Ângelo, onde cheguei logo após 13h. Indo direto para a casa de uma tia, matar saudades e descanso.
19/02/15 – quinta–feira – Terceira etapa da viagem – Santo Angelo – Jaguari, Pretendia sair bem cedo. Mas casa de tia, café, completar óleo e carregar moto, papo… papo… Acabei saindo 10 h. Logo na saída já chuva se preparava. Antes da rotatória para São Miguel das Missões a chuva me alcançou. Calma, persistente, segui com tranquilidade, até São Luiz Gonzaga, decidindo se chegava na cidade ou não. Como queria almoçar em Santiago e chegar na pousada em Jaguari, resolvi seguir viagem. Todos haviam me avisado sobre o estado da estrada entre São Luiz e Bossoroca. Totalmente esburacada. Em princípio este seria meu caminho. Mas, ao cruzar no trevo de acesso a São Luiz Gonzaga, teria que pegar a esquerda para ir para ir a Bossoroca. Vi (juro que vi Kkkk) uma placa indicando seguir em frente. Lá me fui. Lá pelas tantas, quando cruzei por uma placa indicativa, percebi que estava indo a São Borja. Chuva sempre caindo, opção de quem anda a passeio: seguir em frente. Tudo é “festa”.
Almocei em um posto de combustíveis há uns 3 km de São Borja.
Se a chuva aumentasse muito, ficaria em hotel por ali. Como continuou calma, na rotatória de acesso a cidade, peguei a BR-287, fui até Santiago, onde abasteci, comprei mais óleo para a moto e segui até Jaguari, acompanhada, agora, por um solzinho tímido, que junto a beleza da paisagem, foi me abastecendo de energia. Cheguei após 16h na Reserva Cerro do Chapadão, localizada poucos quilômetros antes do acesso a Jaguari. Parada estratégica para um descanso.
Instalada no chalé do sol, após enfrentar um trecho pequeninho de pedra totalmente solta, Tenso! Conhecer a vizinha da cabana ao lado, o chimarrão merecido, fazer a jantinha na cozinha comunitária da pousada, arroz com lentilhas, Delicioso. Anoiteceu com bastante chuva. Noite perfeita para um bom sono.
20/02/15 – sexta-feira- Amanheceu com uma “baita” cerração, bem tipo “Brumas de Avalon”. Chimarrão mais prolongado, café da manhã com amêndoas e uma caminhada até a Casa de Pedra. Quitutes rurais a beira da estrada, acompanhada da vizinha. O sol se apresentou em toda sua luz e calor. Caminhei bastante pela pousada. Almocei o que restou da janta anterior, caminhei, li, chimarrão, papear com vizinhas e com dono da pousada.
21/02/15 – sábado – Acordei cedo, chimarrão, café, arrumar moto, bagagens, carregar, papear. Seguir viagem. Novamente 10h. Valeu o descanso. Resolvi entrar em Jaguari / RS para conhecer. Um passeio rápido. Seguiria agora até São Pedro do Sul. Poucos km após passar pelo trevo de acesso a cidade da Mata, a moto simplesmente parou. Nada ligava. Nem um “vrummm” fazia. 12 h. Fiquei na beira da estrada umas 2 h esperando mecânico. No “olho do sol”. Nada de sombra nas proximidades. Solzinho aquecendo, ajeitei a moto e fiz uma “barraquinha” colocando a jaqueta sobre o baú e o alforje, sentei no chão, encostada na moto e esperei. Acompanhada por umas abelhas e uma lagartixa verde que, seguidamente me olhava e se escondia na vegetação. Neste momento pude ver como tem pessoas pilotando motos e poucos Motociclistas. Em 2h de espera somente um motorista de carro, com “espírito de Motociclista”, entreparou e perguntou se eu precisava de algo. Confirmei a importância de carregar água nas viagens. Mecânico chegou com camionete para levar moto. Revisada para descobrir problema, fusível queimado. Lição: – Não esquecer de levar fusível em próxima viagem! Tudo resolvido. Segui viagem até São Pedro do Sul / RS, onde fiz um lanche.
Segui até Dilermando de Aguiar por estrada asfaltada, bem boa. Dali prá frente seriam 20 km de chão: pedras soltas, terra, areia, off-road total! kkkkkkkk
E, lá me fui: pipocando, dançando, moto “rabeava” nas pedras soltas, os braços começaram a reclamar a canseira. Mal pensei nisso, areia, a roda da moto torceu, não consegui segurar, lá se foi para o chão.
Até olhei ao redor, ninguém para me ajudar a levantar, mãos a obra! Já tinha visto em vídeos na internet como fazer, mas nunca havia tentado. Chegou hora! Tentei umas 3 vezes com moto carregada, não consegui. Descarreguei, tentei, tentei, até conseguir. Ebaaaaa! Ergui a moto sozinha!!! Claro, fiquei um tempo com os braços “mortos”, tive que esperar um pouco para terminar o quilômetros que faltavam para chegar ao meu descanso. Vitoriosa! kkkkk Fiquei no campo 1 semana. Descanso total. depois retorno a Santa Maria / RS. De novo, os 20 km, off-road!!
Terminada então minha viagem maravilhosa. Viagem perfeita! Sozinha, sem estar só! Acompanhada de mim mesma. Esta foi a viagem que “era para ser!”. E, com certeza, “saio dela” mais forte, sabendo que posso, não me perdi, não enfrentei situações que não conseguisse resolver, encontrei amigos estranhos, recebi muita ajuda, antes e durante a viagem! Fui Feliz! Sou Feliz! Um único sentimento: Gratidão!! Gratidão!! Gratidão!! Yucumã, “Grande Roncador”, Voltarei!!!!
Outras fotos do Yucumã –
Um pouco da história do Yucumã, contada em fotos no Museu do Parque do Turvo.
Texto: Anna Seixas
Fotos: Arquivo pessoal
Fonte: Guria Estradeira