Texto: Vinícius Piva fotos: Mario Villaescusa
Paulo Cesar Moreira começou cedo no motociclismo. Quando tinha apenas 6 anos de idade ganhou do pai, um grande entusiasta de motocicletas e automóveis, o primeiro veículo de duas rodas: um ciclomotor da italiana Graziella. Filho mais novo de quatro irmãos, Tico foi pegando cada vez mais gosto pelo motociclismo e em 1975, aos 12 anos, ganhou uma Honda CB 50.
A pequena cinquentinha estava encostada na Praia Grande, litoral paulista, sofrendo com a implacável maresia. O dono, um amigo das temporadas de verão, tinha ganhado uma 125cc e não demonstrava mais interesse pela Honda. Começava aí uma verdadeira história de amor.
A CB 50 passou a ser a companheira fiel de Tico. Com ela ia à escola, passeava e apostava corridas com os amigos. Era, em resumo, sua principal diversão no bairro paulistano Chácara Santo Antônio, onde residia. A CB também foi testemunha dos passeios primeiro com a namorada (hoje esposa), que andou pela primeira vez na garupa de uma moto quando tinha apenas 13 anos. “Às vezes ela não gostava muito de sair com a CB, pois se tinha uma subida íngreme pelo caminho, ela ia a pé e eu de moto, e nos encontrávamos mais à frente. A cinquentinha não aguentava os dois”, lembra Tico.
O tempo passava e, depois de fazer o motor duas vezes e trocar as cores outras tantas, acabou aposentando a pequena Honda. Tico já tinha 17 anos e o motor de 50cc não dava mais conta do recado. Foi quando a guardou na garagem – o velocímetro marcava 18.000 km – e pegou uma trail para resolver o dia a dia. Encerrava-se ali um capítulo de sua história de adolescência. Veio o casamento, depois filhos e a vida do jovem tomou outros rumos.
Renascimento
Há 10 anos, com a família estabelecida e mais estável financeiramente, o hoje chef de cozinha e proprietário de bar resolveu restaurar a motocicleta, tarefa nada fácil por se tratar de um modelo importado. Em um trabalho de muita paciência e perseverança, Tico foi atrás das inúmeras peças. Encontrou ajuda nos amigos, nos fãs do modelo Brasil afora e pouco a pouco foi juntado os itens dos quais precisava para fazê-la funcionar após tantos anos. O plano era ter todo o material em mãos para só depois dar início ao processo de restauração. “Quando a moto começou a ganhar forma, tirava as peças das embalagens, olhava, limpava e embrulhava de novo. A minha mulher me chamava de maluco…”
O processo foi moroso, uma década de preparação para colocar a moto novamente em condições de rodar. A espera, entretanto, valeu a pena, como aponta o apaixonado proprietário. “Lembro-me como se fosse hoje o dia em que ela chegou em casa, era um sábado. Quando dei a primeira volta, revivi a infância. Depois coloquei a mulher na garupa e fomos andar pelo bairro, o mesmo por onde ela rodou 40 anos antes. Meu pai, que refez a cromeação, ficou emocionado quando a viu pronta”, conta. “Ter um veículo assim mantém viva a memória, além da satisfação que é ver um trabalho difícil finalizado.”
Com a CB 50 funcionando veio uma nova rotina. Todo sábado Tico tira a moto da sala, onde fica guardada durante a semana, e a coloca em frente ao bar, a poucos metros de casa. Quando tem um tempo livre durante o dia, dá algumas voltas por perto. De vez em quando, encontra um grupo de amigos no próprio bairro, os mesmos que conheceram a CB na distante década de 1970. Eles se juntam e saem para passear com as respectivas motocicletas clássicas.
Segundo Tico, já ofereceram uma grana boa pela cinquentinha, mas se desfazer dela está fora de cogitação. “Não vendo, para mim a CB não tem preço. Podem até negociá-la depois da minha morte, mas duvido muito”, conclui, feliz da vida com a mesma esposa e a mesma moto 40 anos depois.