A Yamaha, desde o fim da década de 1990 vem utilizando uma fórmula para a disponibilidade de seus novos modelos, que comprovadamente mostrou resultados eficientes. As XJ e as Fazer (de 600 ou 1 000 cm³) sempre foram oferecidas em diferentes versões, onde apenas ter ou não carenagem, eram seus principais diferenciais. Obviamente que, além do diferencial estético a ideia era oferecer opções de escolha mais confortáveis para quem pretendia encarar uma longa viagem, com mais esportividade para quem queria enfrentar um track-day ou com simplicidade para serem utilizadas no dia a dia.
Portanto, não foi uma surpresa quando a marca revelou no Salão de Milão de 2014 a MT-09 Tracer, versão crossover da naked MT-09, que já é uma moto surpreendente. Equipada com um motor tricilíndrico de 847 cm³, com 106 cv e 189 kg verificados, podemos afirmar que a MT-09 foi o começo de uma nova era para a Yamaha a nível mundial. Desde quando apareceram as primeiras fotos, no inverno de 2012, que já especulávamos sobre a aparição de uma versão derivada dela. A Yamaha demorou um pouco mais do que o habitual para confirmar, mas a espera valeu a pena, afinal de contas a Tracer tem muito mais do que apenas uma semicarenagem.
Além da maior proteção aerodinâmica, ela também ganhou importantes modificações, convertendo-se em uma moto estradeira sem perder o caráter da MT-09. A semicarenagem conta com uma bolha de medidas bem generosas e também permite ser regulada manualmente em três alturas que variam 15 mm cada uma delas. No pacote ainda temos protetores de mãos e tampas laterais que desviam o ar frontal das pernas. O grupo óptico dianteiro conta com dois faróis com iluminação totalmente por LED.
Na traseira, o subchassi foi reforçado e está ligeiramente mais largo, onde foi instalado um assento repartido claramente mais amplo que o da versão naked. Isso permitiu que o assento do piloto pudesse ser regulado em altura. Varia entre 845 mm ou 865 mm de distância do solo. O guidão também é mais largo e está instalado sobre prolongadores. Assim, a Tracer oferece uma posição de pilotagem muito mais ereta e espaçosa que a da naked MT-09. Na traseira se destacam grandes alças de apoio para o garupa e os encaixes para as malas laterais. Outro diferencial na traseira é que a balança sofreu alterações no desenho interno, para dar espaço às novas bieletas do amortecedor. A Tracer vem com ABS de série, não há opção sem o sistema, porém, diferentemente da naked MT-09, ela conta com controle de tração que pode ser facilmente desabilitado. Os três mapas do motor selecionáveis (STD, A e B) permanecem disponíveis na MT-09 crossover. O tanque de combustível conta com quatro litros a mais de capacidade, há cavalete central, e o painel é muito parecido com o da Yamaha XT1200Z Super Ténéré.
Analisando todas essas modificações em relação à MT-09, percebemos que a Yamaha buscou transformar uma naked em uma verdadeira moto estradeira. E ainda há uma extensa lista de acessórios opcionais. Com este novo tanque e estas mudanças aplicadas, ela engordou 20 kg. Ao menos na Espanha, a Tracer custa 1 200 euros a mais que a MT-09 naked.
Pondo em prática
No teste da Motociclismo foram até a região de Málaga, na Espanha, para acelerar a novidade. De imediato percebemos que ela está mais alta e mais volumosa. Carenagem, bolha, guidão mais largo, tanque maior, tudo nos leva a crer, assim que subimos nela, que se trata de uma moto completamente diferente da MT-09. Na verdade, a parte frontal segue a tendência do mercado e aparenta ser bastante conhecida, recordando outros modelos. O assento do garupa mais alto e as novas alças de apoio dificultaram um pouco para passar a perna por cima no momento de subir na moto, todavia para os mais baixinhos, há a opção de utilizar o cavalete central que é item original. Depois de ligá-la notamos pouco ruído interno e nada de vibrações. A Yamaha declara ter trabalhado um pouco a entrega de potência e, ao menos no modo “STD”, sentimos um pouco menos de ímpeto e, deste modo, não sentimos tanta diferença quando passamos para o modo “B”, que é o mais suave. No modo “A” a “pegada” permanece forte, sendo muito aconselhável deixarmos sempre o controle de tração ativado. No dia frio que enfrentamos na ocasião da avaliação, não era difícil escorregar de traseira nas saídas de curvas.
Aliás, é um controle de tração que funciona muito bem, sem afetar demais a entrega de potência na roda. O tricilíndrico de 847 cm³ não deixa a desejar em nenhum momento, tem excelente resposta em baixa, muita força em médias rotações e nos permite ir com muito vigor até os 11 000 rpm. Não podemos deixar de considerar que é um motor superatualizado, que está equipado com virabrequim crossplane, acelerador tipo ride-by-wire e dutos de admissão que variam seu comprimento dependendo das informações enviadas por diversos sensores espalhados na moto. Tudo isso foi herdado das principais superesportivas da marca e por isso tem esse comportamento impetuoso, mas perfeitamente controlável independentemente da faixa de rotação. Quanto à caixa de câmbio, percebemos um pouco mais de suavidade nos engates de marchas, apesar de a Yamaha não declarar mudanças internas e ou relação de engrenagens.
Mais estável
Apesar de ter ganhado alguns quilinhos, a Tracer mostra-se melhor apoiada, especialmente com a parte dianteira. A nova calibragem da suspensão e o maior peso que a semicarenagem oferece deixaram o conjunto mais “pregado” ao solo, todavia, não é difícil perceber que a suspensão traseira com links maiores deu um grande passo adiante em relação à versão naked. Porém, não seria demais – pela moto excepcional que é – se as bengalas dianteiras contassem com mais recursos de regulagens. Em inversões rápidas de curvas, com as regulagens originais e sem bagagem extra, é notável como a Tracer é mais equilibrada que a MT-09 naked, mas ainda falta um pouco de confiança quando queremos realmente ir rápido. Resumindo, é uma Yamaha ágil, rápida de reações e que não exige esforço do piloto para colocá-la onde desejamos. A MT-09 Tracer provou que conforto e caráter esportivo podem conviver perfeitamente juntos em um mesmo modelo.
Bons equipamentos
A Tracer traz em seu pacote uma relação qualidade/preço/equipamentos muito difícil de ser encontrada em outro modelo. Além de um motor delicioso com três cilindros em linha e três mapas diferentes de injeção, também conta com um chassi de dupla trave de alumínio e uma balança de braços assimétricos também de alumínio. Na frente, as bengalas invertidas são vistosas e incorporam encaixes radiais para as pinças monobloco que têm a missão de morder discos de 298 mm. As rodas são de 17 polegadas, equipadas com pneus de 120/70 na dianteira e 180/55 na traseira. O painel é completamente digital e do lado esquerdo conta com tomada 12 Volts. Toda a iluminação, tanto traseira quanto dianteira, é formada por LEDs. O assento é repartido, com opção de regulagem de altura para o piloto. Impossível não notar as grandes alças de apoio para o acompanhante e a disponibilidade de encaixes para as malas laterais. Não podemos deixar de citar o novo sistema de links que oferece mais progressividade à supensão traseira.
Resumidamente
A Yamaha conseguiu, com a Tracer, provar que é possível fabricar um modelo destinado a grandes viagens que seja leve e acessível. Ao menos na Europa, onde ela custa 9 799 euros, não há nada nesse padrão, tão completa, ágil e divertida por este preço. Pela proposta de utilização, pesar 210 kg com o tanque cheio é surpreendentemente agradável. A relação peso-potência também se enquadra no quesito surpresa agradável e é muito mais do que interessante poder atingir velocidade máxima de 220 km/h e gastar somente 22 segundos para levá-la desde 0 a 1 000 metros. Pelo menos nesse nosso primeiro contato, ela nos provou ser confortável, leve, ágil e divertida. No Brasil o preço da naked não é tão acessível como na Europa, e a Yamaha ainda não divulgou se esta versão virá. No entanto, está comprovado que se ela viesse, seria uma pedra e tanto no sapato da concorrência. Quem sabe, isso não ocorra no Salão Duas Rodas, em outubro? Vamos aguardar.
Ficha Técnica
Motor tricilíndrico, arrefecido a líquido
DOHC I 12 válvulas I câmbio de 6 velocidades
Cilindrada: 847 cm³
Potência máxima declarada: 115 cv a 10 000 rpm
Torque máximo declarado: 8,9 kgf.m a 8 500 rpm
Diâmetro x curso do pistão 78 mm x 59,1 mm
Taxa de compressão: 11,5:1
Quadro: Dupla trave de alumínio
Cáster: 24°
Trail: 100 mm
Suspensão dianteira: Telescópica invertida de 41 mm, com 137 mm de curso e regulagem de pré-carga
Suspensão traseira: Monoamortecedor com 130 mm de curso e regulagens de pré-carga e extensão
Freio dianteiro: Dois discos de 298 mm, pinças de 4 pistões, ABS
Freio traseiro: Disco de 245 mm, 2 pistões, ABS
Modelo do pneu: Michelin Pilot Street
Pneu dianteiro: 120/70 – 17″. 3,5″
Pneu traseiro: 180/55 – 17″. 5,5″
Medidas
Comprimento • 2 160 mm Largura • 949 mm
Altura do assento • 845/860 mm Entre-eixo • 1 440 mm
Tanque • 18 litros Peso cheio • 210 kg